sábado, 28 de maio de 2011

Os banquinhos da cozinha


Sou de um tempo em que televisão era artigo de luxo e a maioria das famílias não tinha recursos para contar com aquela novidade. Um tempo em que o lazer preferido das famílias e talvez um dos únicos era sentar na calçada para conversar no início da noite.

Lembro bem que com minha família não era diferente. Ver televisão era algo raro e, quando ocorria, era na casa de algum vizinho.

Nasci e cresci na casa de número 20 da rua Comendador João Cintra. Foi ali que vivi grande parte de minha existência.

Quando nasci era uma casa antiga, com teto alto e assoalho de madeira com buracos que deixavam ver o andar de baixo. Naquele tempo eu ainda era um menino magricela de orelhas grandes.

Somente no final da década de 60, mais precisamente em 1970, na época da Copa do Mundo do México, quando eu já contava 13 anos, que uma nova casa começou a surgir a partir das idéias de minha mãe, que praticamente desenhou nossa nova residência.

E quando a reforma por fim terminou, já em 71, alguns acessórios foram adquiridos para dar vida à casa. E, entre eles, três banquinhos em fórmica que circundavam uma pequena mesa de mármore incrustada na parede da cozinha.

Está certo que os mesmos praticamente nunca foram utilizados como assento para refeições naquela mesa. Primeiro porque dificilmente alguém comia ali e, depois, porque eram extremamente baixos para tal finalidade.

Mas o destino havia reservado uma tarefa mais importante para aqueles bancos nanicos e de pernas finas. Quis o destino que por mais de três décadas fossem eles as testemunhas de uma das uniões mais perfeitas que já vi.

Por mais de três décadas aqueles banquinhos serviram como assento para meus pais se sentarem na porta de casa. Fosse de dia ou de noite, a cada folga nos afazeres domésticos ou no trabalho e lá estavam os dois, sentados nos banquinhos jogando conversa fora ou planejando algo novo para nossa família.

Cresci vendo aquela cena e hoje, alguns anos depois que meu pai se foi e depois da partida de minha mãe, a cada vez que passo por aquele quarteirão, sinto a presença de ambos.

Olho para aquela casa, de coração apertado e a saudade aflorada no peito e parece que vejo os dois sentados ali, encostados no portãozinho do abrigo. Essa cena não me sai da memória e, mesmo à distância, se fecho os olhos posso visualizar ambos ali sentados.

Os banquinhos nem sei onde foram parar. Foram consumidos pelo tempo e se deterioraram, mas a lembrança permanece intacta e a imagem nítida em minha retina.

Infelizmente o tempo é implacável e senhor de todas as coisas. Ele rege nossa vida e nossa história e nada podemos fazer para mudar o curso natural das coisas.


É como um rio, que segue seu curso deixando para trás as marcas indeléveis de sua força. Tal como as águas, que passam e não voltam mais, nossa vida segue seu curso de acordo com o tempo e, por mais que desejamos, jamais conseguiremos voltar no tempo para reviver tudo o que já se foi.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A Coloninha, o Risca Faca e a rua da Estação

Sou de um tempo em que ruas, bairros e vilarejos eram mais conhecidos por apelidos que propriamente por seus nomes oficiais. Um tempo romântico, em que as pessoas valorizavam muito mais as amizades.

Lembro bem de certos locais e ruas da cidade que nem mesmo o nome correto eu sabia, mas que eram por mim conhecidos pelo apelido. A José Bonifácio, rua principal da cidade, por exemplo, era mais conhecida como rua da Estação, por ser a principal via de acesso à estação do trem.

Quem iria pegar um trem na estação da Mogiana, invariavelmente descia pela rua da Estação antes de virar tomar o trecho que hoje leva o nome de Orestes Pucci, mas que ainda era uma parte da Alfredo Pujol. Esse era o caminho natural para quem vinha do Cubatão, dos Prados ou do Centro mesmo.

Lembro das inúmeras vezes que desci aquela rua com meus pais para tomar um trem rumo a Martim Francisco, com destino a fazenda São Miguel, de propriedade da família Cavenaghi, então administrada por meu tio Osório, esposo de minha tia Jacira, irmã de minha mãe. Eu era um menino magricela de orelhas grandes e ainda era de madrugada e a gente descendo a fria José Bonifácio tentando alcançar minha avó Carmela, que há muito já havia saído de casa, desembestada com medo de perder a Maria Fumaça.

A rua da Estação era apenas uma entre tantas vias conhecidas pelo apelido. Assim como a rua do Pescador, alcunha dada à rua Embaixador Pedro de Toledo, por ser o caminho natural com destino ao ribeirão da Penha.

Ou a rua do Comércio, como era conhecida a rua Francisco Glicério. Tinha também a rua do Amparo, como era chamada a rua da Penha, por ser a saída para Amparo.

Era um tempo diferente, bem mais gostoso que essa agitação toda de hoje. Um tempo em que podíamos brincar na rua sem medo de ser atropelado ou assaltado.

Da janela do banheiro de casa eu vislumbrava alguns lugares pitorescos como o Risca Faca, hoje a parte alta da Vila Ilze, ou a Coloninha, ali no pé do escadão do Tenente Pintor. Sem contar o Arranha Gato, que pra quem não sabe é aquela viela existente na avenida dos Italianos, perto da casa da família Guiraldelli.

Na Francisco Glicério, depois da avenida Rio Branco, tinha o Pito Aceso, que compreendia a rua Santos Dumont, a Romano Mozzaquatro e as demais vias daquela região. Na Duque de Caxias tinha o Cata-Osso, pouco antes de chegar ao local onde hoje está o Ginásio Itapirão.

Na Vila Bazani, nas proximidades do campo que leva o nome do saudoso Jaú, tinha o Subaco Ardido. Sem contar o Morro do Macumbê, como até hoje é conhecido o final da rua do Cubatão. Ou o Tola Cavalo, apelido da rua Presidente Kennedy.


Nomes e apelidos que ficaram para trás no tempo, esquecidos ou desconhecidos dos mais novos. Mas que permanecem na memória de quem viveu aquele tempo romântico de Itapira e sua gente.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Amor de pai e mãe

Sou de um tempo em que pai e mãe eram o esteio de uma família. Um tempo em que havia, antes de tudo, o respeito dos filhos pelos pais.

Lembro bem como meu pai e minha mãe sempre deram tudo de si por seus três filhos. Talvez, naquele tempo, eu não tenha dado o verdadeiro valor a tudo que ambos fizeram por nós, mas hoje, só depois que os perdi sei o verdadeiro valor de cada gesto, cada palavra, cada atitude de cada um deles.

Por que será que tem que ser assim? Por que será que só damos valor a alguma coisa ou alguém quando perdemos? Será que é tão difícil avaliarmos com o coração e com a razão ao mesmo tempo?

Meu pai e minha mãe sempre foram o esteio de nossa família. E, apesar das divergências que nossa infância ou juventude provocam, sempre tive consciência do valor de cada um deles.

Hoje, depois de ter sido contemplado com a ação divina de ser pai depois dos 50, e, por circunstâncias que o destino nos impõe, sei o quanto o quanto seria bom tê-los ao meu lado. Como seria bom que estivessem por aqui para acompanhar o crescimento de minha pequena Mariane.

A cada brincadeira que ela me propõe lembro do tempo em que eu ainda era um menino magricela de orelhas grandes. Um tempo em que minha mãe era minha melhor companheira para as brincadeiras de criança.

Assim como ela também foi a melhor companheira para minhas irmãs, meus sobrinhos Duda e Camila e, mais tarde, para as minhas outras duas sobrinhas, Manon e Luê.
Quando ouço o pedido de minha pequena para o tradicional esconde-esconde, vejo minha mãe se escondendo atrás da porta ou contando até dez para os netos se esconderem. E sinto um nó no peito por minha mãe não estar mais aqui para brincar com ela também.

Quando lhe dou proteção vejo meu pai, sempre presente nos momentos em que sua proteção de pai se fazia presente. Claro que minha filha não percebe, mas meus olhos se enchem de lágrimas simplesmente porque não posso lhe oferecer a companhia da avó nas brincadeiras ou o carinho do avô nos momentos de medo.


E como isso dói no cerne do meu ser, incapaz de reverter o destino. E aí entendo o porquê de ter sido escolhido por Deus para ser pai pela primeira vez já na idade de ser avô.

A quarta série ginasial

Faz tempo que isso não ocorre, mas um tempo atrás eu vivia sonhando que estava nas dependências da escola onde cursei o ginasial e também ...