Sou de um tempo em que estórias infantis eram contadas por nossas
mães. Um tempo em que não se tinha os recursos de hoje, como TV, DVD ou
computador e a mãe usava a imaginação para passar ao filho todos os detalhes de
cada fábula.
Lembro bem desse tempo. Das riquezas de
detalhes que as estórias que minha mãe contava continham.
Hoje, com todos os recursos tecnológicos
possíveis, a tarefa ficou mais fácil. Basta ligar a TV e o aparelho de DVD e a
estória está ali, pronta para ser vista e ouvida.
Uma de minhas estórias prediletas sempre
foi Branca de Neve e os Sete Anões. Talvez pela forma que minha mãe contava,
com riqueza de detalhes.
Lembro que ela sempre frisava que a casa
dos anõezinhos tinha sete cadeirinhas e sete caminhas. E na mesa eram sete
pratinhos, com sete garfinhos e sete copinhos.
Era fechar os olhos e imaginar tudo
aquilo. Sua forma de contar ainda hoje permanece em minha memória e me inspira
na hora de contar as estórias para minha filha.
E, por coincidência ou não, minha pequena
Mariane também tem predileção pela Branca de Neve e os Sete Anões. Até mesmo
seu fascínio pelo inocente Dunga - não aquele da Copa do Mundo – repete meus
passos na infância. Isso me faz voltar aos meus tempos de infância, quando eu
ainda era um menino magricela de orelhas grandes.
Naquele tempo, sem os recursos de hoje,
minha imaginação viajava enquanto minha mãe contava a estória com todos os
detalhes. E como era bom ouvir aquilo, poder criar em minha mente as formas
descritas por ela para cada personagem.
Mais tarde, quando o extinto Cine
Paratodos, um dos cinemas da cidade daquela época, exibiu a fábula adaptada
pelos Irmãos Grimm e incrementada pelos estúdios do fabuloso Walt Disney, pude
ver como minha mãe realmente tinha um dom especial para detalhar as fábulas.
Olhando naquela telona e visualizando os personagens era como se
estivesse ouvindo minha mãe ao fundo, contando o desenrolar da estória da bela
moça acolhida pelos pequeninos.
Curiosamente, ainda hoje, quando vejo e
revejo o filme ao lado de minha filha, é como se estivesse ouvindo a descrição
de minha mãe. Parece que ela está ali, ao nosso lado, nos contando a fábula
mais famosa do mundo.
E como é bom ouvir minha pequenina
imitando os personagens, repetir a fala da bruxa, quando ela diz que Branca de
Neve será sepultada viva, ou cantar a canção dos anões retornando para casa.
Sua cabecinha recheada de imaginação até criou uma versão especial para quando
estamos indo para a escola.
São momentos que me fazem voltar aos meus
tempos de criança. Tempos que ficaram perdidos no passado, mas que retornam de
forma veloz a cada fagulha de lembrança que as eternas fábulas provocam.
Viajo no tempo e me vejo no colo de minha
mãe, ouvindo atentamente cada detalhe narrado por ela. O tempo é implacável em
muitos sentidos, mas não consegue apagar as boas lembranças que guardamos de
tempos felizes.
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