terça-feira, 1 de março de 2011

A Rádio Nacional

Sou de um tempo em que novela se ouvia no rádio. Um tempo em que o rádio tinha válvulas que iluminavam o aparelho por dentro.

Lembro bem que minha mãe era fã de carteirinha das rádionovelas. E era através da rádio Nacional do Rio de Janeiro, que ela sintonizava pelas Ondas Curtas, que acompanhava os capítulos todas as tardes, de segunda a sexta.

Naquele tempo o rádio era o companheiro inseparável e as emissoras produziam programas de qualidade, muitos deles em auditórios. Cantoras e cantores que faziam sucesso eram figurinhas carimbadas nesses programas.

E era em um desses programas de auditório que minha mãe acompanhava as atrações apresentadas por César de Alencar. Comunicativo, como todo bom carioca, o animador tinha uma audiência enorme em todo o país e minha casa se incluía nesse contexto.

Pela forma como gostava de ouvir os programas do animador, minha mãe acalentava o sonho de um dia estar naquele auditório no Rio de Janeiro, mesmo sabendo que aquilo era algo difícil de acontecer, quase impossível. Mas, quis o destino que meu pai resolvesse comprar quatro passagens para uma dessas excursões ao Rio de Janeiro. Corria o ano de 64 e eu, um menino magricela de orelhas grandes, iria, pela primeira vez, pisar naquele paraíso chamado Rio de Janeiro.

Lembro que a excursão foi organizada pelo Laércio Mazon, hoje um dos nomes fortes da Viação Santa Cruz, e que ficamos em um simpático hotel, cujo nome se não me falha a memória era Flórida, na rua do Catete, no Flamengo. Feliz com a oportunidade, minha mãe não perdeu tempo e no primeiro dia na Cidade Maravilhosa fez o pedido e meu pai, de pronto, atendeu,

E lá fomos nós, meu pai, minha mãe, minha irmã Vera e eu para o programa de auditório do César de Alencar, na rádio Nacional – a Cláudia nasceu só no ano seguinte e perdeu a oportunidade. Se não me falha a memória o auditório ficava no 21º andar em um prédio na praça Mauá. Dotado de um palco com duas cabines laterais, por onde os cantores entravam em cena, o auditório era imponente com suas poltronas vermelhas.

Não me lembro das atrações que vimos, mas só de estar ali, naquele lugar mágico, presenciando de perto o que só podíamos ouvir através do rádio era algo fantástico. E, além disso, ver a alegria de minha mãe, extasiada por ver de perto seus ídolos, já valia a pena.

O programa durou cerca de duas horas que valeram por uma vida toda. Mal sabia eu, um garotinho apenas, que um dia também me tornaria um radialista. Mas, talvez, tivesse sido ali, com apenas sete anos, que minha paixão pelo rádio tenha se manifestado pela primeira vez.

Claro que visitamos outros lugares tradicionais do Rio, com o Corcovado, o Pão de Açúcar, as praias de Copacabana e Ipanema, mas o que guardo em meu baú de memórias é aquele programa de auditório da rádio Nacional. Agora, muitos anos depois, ainda me lembro com saudade daquele dia glorioso para minha mãe e para nós também, porque não.

Afinal, fizemos um passeio diferente e vimos de perto grandes nomes da música brasileira. Apesar das dores que senti nos pés durante todo o tempo por ter calçado os sapatos nos pés trocados.


E, em relação ao Laércio Mazon, com quem eu ficava na maior parte do tempo, posso citar uma passagem no mínimo hilária. Foi ele quem me convenceu a subiu no bondinho do Pão de Açúcar e foi lá em cima, no Morro da Urca, primeira parada antes do Pão de Açúcar, que ele, ao se sentar na grama, não reparou que no lugar que havia escolhido para descanar tinha um monte deixado por um cachorro mal educado.

2 comentários:

Fernando César disse...

Olá Humberto, boa tarde. Fiquei muito feliz ao ver sua mensagem no Blog da Rádioficina e agradeço a sua visita.

Venho acompanhando o seu blog e gosto muito de suas colunas. Não sou da geração em que tinhamos o rádio como principal meio de comunicação imediata, porém gosto muito de estudar sobre o que significava o rádio nas décadas passadas.

É um prazer muito grande dividir o espaço do site "soudorádio" com profissionais como você.

Um forte abraço!!

Humberto Butti disse...

Obrigado Fernando, pelas palavras e pelo carinho. Procuro colocar em meus escritos aquilo que sinto e aquilo que vivi. Também te acompanho pelo Sou do Rádio, um instrumento novo para nós e para quem está nos lendo; Abraços

A quarta série ginasial

Faz tempo que isso não ocorre, mas um tempo atrás eu vivia sonhando que estava nas dependências da escola onde cursei o ginasial e também ...