Sou de um tempo em que o próprio tempo custava a passar. Um tempo
diferente de tudo que se vê hoje em dia.
Se eu pudesse voltar no tempo, com
certeza, escolheria momentos inesquecíveis de minha passagem por esse mundo.
Faria um tour por minha infância e adolescência para reviver um tempo feliz.
Experimentaria, logo de saída, beber um
guaraná Itamira, sem esquecer de fazer um furo na tampa com um prego, ao invés
de abrir a garrafa. Não poderia deixar de lado também os deliciosos quindins da
Padaria Modelo, que ficava onde hoje está o banco Santander.
Deixaria um espaço também para os pães
d’água da Padaria do Samora, entregues em casa pelo Irineu Samora e sua
inseparável Kombi. E as roscas e sequilhos do Tico Donatti.
Aos domingos iria com meu pai até a casa
dos meus avós paternos, sempre subindo o escadão da Ladeira São João, passando
pela avenida dos Biris. E à tarde iria com ele ao velho Chico Vieira, ali no
Parque Juca Mulato, ver um jogo do futebol amador e saborear um guaraná da
Brahma.
Se não fosse, ficaria em casa e ouviria o
jogo pela Rádio Clube. Até parece que ouço, pelo rádio, a voz grave do narrador
Geraldo Marconi: “Boooola nas mãos do goleiro Orlandinho Boretti, que
levaaaanta para o ataque....”. Ah, que saudade desse tempo.
Como era bom esse tempo. Um tempo em que
as pessoas podiam andar tranquilamente pelas ruas, sem medo de assaltos.
Um tempo em que tudo era diferente, mais
gostoso. Um tempo em que eu era um menino magricela de orelhas grandes.
Às vezes, paro no tempo e me pego pensando
se não estou no tempo errado. Aí, caio na real e vejo que minha realidade é bem
outra, diferente daquela que gostaria de ter.
Como seria bom poder voltar no tempo e
reviver tudo aquilo que ficou para trás. Ler um gibi com estórias de Walt
Disney, ver as notícias do Palmeiras no exemplar da Gazeta Esportiva do Carlos
Venturini, assistir na TV do vizinho um episódio do Nacional Kid ou
simplesmente brincar na rua com os amigos de infância.
Ou, quem sabe, sentar à mesa de casa para
o jantar e ter ao meu lado meus pais e minhas irmãs. Almoçar aos domingos na
casa de meus avós, cercado de tantas pessoas queridas, que já não estão mais
nesse mundo.
Mas, infelizmente, os tempos são outros.
Tudo isso ficou no passado, mas bem guardado em meu baú de memórias. Me resta
fechar os olhos, remexer em minhas recordações e trazer de volta esse tempo
feliz e tudo aquilo que tive em minha infância.
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