segunda-feira, 18 de abril de 2011

Eu e a bola

Sou de um tempo em que a bola era de capotão, feita de couro, com costura e que, quando chovia, ficava pesada e encharcada. Um tempo em que ser criança significava brincar com bola, pião, maranhão e tantos outros brinquedos simples e ao mesmo tempo fascinantes.

Minha relação com a bola começou cedo. Desde pequeno, quando eu ainda era um menino magricela de orelhas grandes, sempre gostei de brincar com bola.

Minha mãe era minha companhia na hora de dar meus chutes. Eu, envergando minha camisa verde como atacante e ela, encarnando o velho José Poy, então goleiro do seu São Paulo.

Era divertido e muito prazeroso. Dávamos boas risadas e eu aprimorava meus chutes com a perna esquerda, como bom canhoto.

Mais tarde, um pouco mais crescido, dei meus chutes como atacante do Paulistinha, o time de minha rua. Não que eu tenha sido um grande ponta-esquerda, mas tenho consciência de que dei minha pequena colaboração para algumas de nossas vitórias.

Depois de vestir a camisa de outros gloriosos clubes do nosso futebol amador, como o Olimpikus da Usina, por exemplo, enveredei pelos caminhos do jornalismo esportivo, onde insisto em permanecer até hoje. Pelo menos, dessa forma, pude contribuir de forma mais decisiva para esse esporte que nos apaixona.

Acredito que essa relação estreita com a bola me inspirou desde pequeno a cultivar essa paixão pelas coisas que circundam o futebol. Quando não estava correndo atrás de uma bola, estava lendo a Gazeta Esportiva na alfaiataria do Carlos Venturini ou ouvindo o jogo do domingo pelas ondas da Rádio Clube.

Adorava jogar futebol de botão e narrar as jogadas. Além disso, ao lado do campo imaginário havia sempre uma folha de caderno para as anotações sobre quem havia feito o gol.

Por todos esses indícios acredito que o dom de escrever ou falar ao microfone vem de pequeno, sendo moldado ao longo do tempo. Nascemos com esse dom e desenvolvemos as aptidões de acordo com as oportunidades.

Passados tantos anos desde aquela época posso afirmar com toda certeza que cada vez que abro os olhos para um novo dia tenho a consciência de que será mais um dia para aprender um pouco mais. E sinto alegria em saber que ganho o meu sustento e o de minha pequena Mariane fazendo o que gosto e sei fazer.


E fico mais feliz ainda quando ela me pede para brincar de bola e coloca a mesma no chão para dar seus chutes. Volto no tempo, encarno o José Poy e vejo nela aquele menino magricela de orelhas grandes, ávido por enfiar o pé na bola com fé e gosto.

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