Sou de um tempo em que a bola era de capotão, feita de couro, com
costura e que, quando chovia, ficava pesada e encharcada. Um tempo em que ser
criança significava brincar com bola, pião, maranhão e tantos outros brinquedos
simples e ao mesmo tempo fascinantes.
Minha relação com a bola começou cedo.
Desde pequeno, quando eu ainda era um menino magricela de orelhas grandes,
sempre gostei de brincar com bola.
Minha mãe era minha companhia na hora de
dar meus chutes. Eu, envergando minha camisa verde como atacante e ela,
encarnando o velho José Poy, então goleiro do seu São Paulo.
Era divertido e muito prazeroso. Dávamos
boas risadas e eu aprimorava meus chutes com a perna esquerda, como bom
canhoto.
Mais tarde, um pouco mais crescido, dei
meus chutes como atacante do Paulistinha, o time de minha rua. Não que eu tenha
sido um grande ponta-esquerda, mas tenho consciência de que dei minha pequena
colaboração para algumas de nossas vitórias.
Depois de vestir a camisa de outros
gloriosos clubes do nosso futebol amador, como o Olimpikus da Usina, por
exemplo, enveredei pelos caminhos do jornalismo esportivo, onde insisto em
permanecer até hoje. Pelo menos, dessa forma, pude contribuir de forma mais
decisiva para esse esporte que nos apaixona.
Acredito que essa relação estreita com a
bola me inspirou desde pequeno a cultivar essa paixão pelas coisas que
circundam o futebol. Quando não estava correndo atrás de uma bola, estava lendo
a Gazeta Esportiva na alfaiataria do Carlos Venturini ou ouvindo o jogo do
domingo pelas ondas da Rádio Clube.
Adorava jogar futebol de botão e narrar as
jogadas. Além disso, ao lado do campo imaginário havia sempre uma folha de
caderno para as anotações sobre quem havia feito o gol.
Por todos esses indícios acredito que o
dom de escrever ou falar ao microfone vem de pequeno, sendo moldado ao longo do
tempo. Nascemos com esse dom e desenvolvemos as aptidões de acordo com as
oportunidades.
Passados tantos anos desde aquela época
posso afirmar com toda certeza que cada vez que abro os olhos para um novo dia
tenho a consciência de que será mais um dia para aprender um pouco mais. E
sinto alegria em saber que ganho o meu sustento e o de minha pequena Mariane
fazendo o que gosto e sei fazer.
E fico mais feliz ainda quando ela me pede
para brincar de bola e coloca a mesma no chão para dar seus chutes. Volto no
tempo, encarno o José Poy e vejo nela aquele menino magricela de orelhas
grandes, ávido por enfiar o pé na bola com fé e gosto.
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