Sou de um tempo em que Natal se comemorava em família, dentro de
casa, com a ceia e o almoço entre familiares. Um tempo que ficou bem lá trás,
esquecido no tempo.
Lembro bem que a noite de Natal era
dedicada à Missa do Galo e à ceia com a família reunida. Minha mãe preparava a
leitoa, o frango assado, a maionese, a farofa, o arroz, o virado de feijão e a
sobremesa. As castanhas-do-pará, nozes, castanhas portuguesas, avelãs e as
frutas ficavam por conta do meu pai.
Tenho gravadas na memória as noites
natalinas de minha infância. Geralmente a hora de dormir era bem antes da
meia-noite. O silêncio imperava nas ruas, não se ouvia carros buzinando, gente
berrando ou rojões, como nos dias de hoje.
A noite de Natal era dedicada à
confraternização e ao encontro com familiares que vinham de longe. Não havia
essa loucura dos dias de hoje, quando não se tem paz nem mesmo para uma simples
troca de presentes, tal o barulho dos fogos e das buzinas.
Talvez os tempos tenham mudado ou eu
esteja ficando velho, mas a verdade é que rojões, gritaria e buzinas não
combinam com a celebração do nascimento de Jesus. Esse tipo de algazarra,
típico da juventude atual, está mais para o Ano Novo, que para mim não tem
significado algum, a não ser o fim de um ano e o começo de outro.
Sei que minhas lembranças de um tempo que
não volta mais são apenas lembranças, mas como seria bom se o tempo parasse e o
relógio retrocedesse para tudo aquilo voltar. Seria bom ver tantas pessoas que
já se foram, sentir novamente a ansiedade pela espera para abrir o presente de
Natal, acreditar em Papai Noel e olhar no espelho e ver um menino magricela de
orelhas grandes.
Mas, como não sou senhor do tempo, é
preciso viver o tempo de hoje e me contentar com o que tenho, que não é pouco.
Na noite de Natal, deitado em minha cama, tive o prazer de acariciar a cabeça
de minha pequena Mariane para protegê-la do barulho dos fogos.
Sentir que aquela pequena criatura
confiava no pai para não ter medo do barulho foi o maior presente de Natal que
eu poderia ter. Muito mais do que qualquer presente material de grande valor. Ouvi-la
perguntar se o barulho já ia acabar preencheu o vazio que meu coração sentia
pela falta de meus pais e das noites de Natal de antigamente.