Mitos marcam os ciclos de nossas vidas e ajudam a formar
nossa memória e nossa história. Quem nunca idolatrou um mito que atire a
primeira pedra.
Nos meus tempos de adolescência tive meus ídolos e mitos.
Não apenas aqueles inalcançáveis como grandes jogadores de futebol ou heróis de
seriados ou histórias em quadrinhos.
Tive ídolos e mitos que viviam na mesma cidade e que
podiam ser vistos a qualquer momento. Mas, era nas tardes de domingo que eu
mais gostava de vê-los em ação.
Era no velho Chico Vieira, lá longe de casa, que eu
passava minhas belas tardes de domingo para em 90 minutos ver o que eram
capazes de fazer com a bola nos pés. Para mim eram verdadeiros heróis, pois
treinavam no período noturno, quando treinavam, para depois enfrentarem os
adversários nas tardes de sol escaldante.
Se na minha pré-adolescência tive a oportunidade de ver a
Esportiva ser campeã da Terceira Divisão de 69, nos anos 70 foi a vez de
idolatrar um grupo que, apesar das dificuldades e de não ganhar nada para
jogar, ficou vários anos sem perder no Chico Vieira.
Vi muita gente vestir a camisa grená do Itapira Atlético
Clube. Uns com maestria, outros nem tanto, mas todos com a mesma valentia.
E todos, sem exceção, se transformaram em mitos para os jovens
e adolescentes da época. E tinham o respeito e carinho dos mais velhos.
Costumo dizer que sem personagem não há história para
contar. E sem os ídolos e mitos não há feitos para relatar.
Aquele foi um tempo diferente, todos jogavam pelo amor a
bola e a camisa que vestiam. Não havia chuteiras coloridas, cabelos
descoloridos ou tatuagem encobrindo braços, pernas e outras partes do corpo.
Era um tempo mais romântico, um tempo em que muitos
daqueles jovens se agigantavam dentro das quatro linhas davam o que tinham e o
que não tinham pela vitória. Sem contar que algumas vezes saíam de um baile na
noite anterior praticamente direto para o vestiário, mas mesmo assim estavam
lá, prontos para a batalha que os esperava.
Ver as defesas de um Luizinho, um Sabadini, um Roberto
Cremasco ou de tantos que envergaram a camisa 1 do time era fantástico. Assim
como era bom ver o trato com a bola de um Almir, um Toninho Bellini, um
Mineiro; a raça de um Pirulito, um Nelsinho, um Tadeu Venturini, um Carlinhos
Mendes; a vontade e a capacidade para marcar um gol de um Dado, um Tuia, um
Fifo, um Pedro Paulo, um Dé, um Kalu, um Cabrita e tantos outros que lá na
frente tinham no meio-campo a maestria de um cara chamado Flávio Boretti.
Tempos bons aqueles! Nem sempre o dinheiro do ingresso
estava disponível, mas meu pai, sabedor da paixão que eu tinha pela bola,
colaborava e lá ia eu a pé até aquele templo do futebol, mas feliz por ter a
oportunidade de viver mais uma bela tarde de domingo.
Mitos marcam os ciclos de nossas vidas e ajudam a formar
nossa memória e nossa história. Esses foram meus mitos da juventude, que me
ajudaram a construir minha memória e minha história.
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