No final da década de 90, mais precisamente nos anos de
98 e 99, o rádio esportivo de Mogi Mirim e região viveu uma época de ouro.
Pelas ondas da Rádio Chamonix de Mogi Mirim, uma equipe de esportes tornou-se a
primeira e única a cobrir um jogo internacional fora do país.
Mogi Mirim sempre teve boas equipes de esportes em suas
emissoras. Desde a luta do Mogi Mirim para ascender à divisão principal do
futebol paulista a disputa pela audiência era acirrada.
Mas, sem desmerecer esse ou aquele profissional e foram
muitos que passaram pelos microfones das rádios mogimirianas, pode-se afirmar
que há um divisor de águas. Não há como negar que a equipe formada por um sonhador
chamado Luíz Eduardo Gasparin, ou Gaspar Luiz nas ondas do rádio, marcou época
e fez história.
Foram dois anos de um trabalho intenso, com cobertura, in
loco, de competições como Libertadores, Mercosul, Brasileiro, Campeonato
Paulista, entre outros, mesclando com as partidas do futebol amador da cidade.
Foi um período de viagens constantes para a Capital paulista, cobrindo jogos no
meio e no final de semana e distribuindo repórteres pelos gramados onde a bola
rolava e atraía o interesse do ouvinte.
Com seu poder de convencimento e modo especial de tratar
a todos, Gaspar Luiz formou uma das mais poderosas equipes do rádio regional.
Eram dois narradores: Batista Gabriel e Valentim Antonio; eu atuava como
comentarista e revezava na função com Osvaldo Ribas. E a relação de repórteres
era extensa, formada por profissionais como Paulo Rogério Tenorio, Leo Santos,
Marcelo Moraes, Ivan Resende, Paulo Henrique Tenorio, Palma Júnior e o próprio
Gaspar. Sem contar com a inteligência e o profissionalismo de um Walter Abrucez
na retaguarda.
Em junho de 99, com o Palmeiras na final da Libertadores,
a cobertura do primeiro jogo em Cali, na Colômbia, tornou-se uma obsessão para
o chefe da equipe. E essa obsessão fez com que o sonho se transformasse em
realidade e a história começou a ser escrita.
Em um vôo em que a delegação do Palmeiras também estava,
lá fomos nós para realizar a primeira cobertura internacional do rádio
regional. Ao lado do próprio Gaspar e do narrador Batista Gabriel, viajei para
ser o comentarista da partida realizada no Pascoal Guerrero de Cali.
Como chegamos na noite anterior ao jogo, tivemos tempo de
descansar para no dia seguinte iniciar os trabalhos na cidade colombiana. Como
eu era o único que arranhava o castelhano, fiquei incumbido de fazer a comunicação
com o motorista do taxi, o garçom no restaurante e os funcionários do hotel.
Durante o dia do jogo, fomos ao estádio para conhecer e
já deixar tudo preparado para a transmissão da partida. E foi lá que o Gaspar
Luiz, que pela sua maneira de ser, sempre apressado, deu a nota cômica à
viagem.
O programa esportivo da Chamonix estava no ar e, de lá,
fizemos uma participação com as últimas informações do jogo que aconteceria
logo mais. A cidade de Cali vivia um clima tenso, com as Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia) mantendo reféns em uma igreja 99 pessoas.
Talvez empolgado pela importância do trabalho que
estávamos fazendo, no momento que iria entrar no ar para passar o boletim com
as notícias do Palmeiras, Gaspar Luiz trocou as bolas e mudou a Palestina de
continente. E lá foi ele, microfone na mão e soltando as informações: “a cidade
de Cali vive momentos de tensão por causa do sequestro de 99 pessoas pela
OLP...”. Eu e o Batista Gabriel olhamos um para o outro e não conseguimos segurar
o riso.
OLP é a Organização pela Libertação da Palestina, ou
seja, não tinha nada a ver com o que estava ocorrendo na Colômbia. Depois que
encerrou seu boletim e vendo que ríamos, Gaspar viu a confusão que tinha feito
e também caiu na risada.
O Palmeiras perdeu aquele jogo por 1 a 0, mas venceu o
segundo no Palestra Itália por 2 a 1 e levou o título nos pênaltis. Gaspar Luiz
ainda continuou fazendo história ao embarcar para o Japão para cobrir a disputa
do Mundial Interclubes entre Palmeiras e Manchester United, vencida pelo time
inglês no início de dezembro, antes de falecer após um acidente quando a equipe
Bola de Ouro voltava do Rio de Janeiro após cobrir um Flamengo e Palmeiras pela
Mercosul.
Posso afirmar que ninguém fez mais que ele pelo rádio
esportivo regional. Seu nome será sempre lembrado por todos nós, que tivemos a
honra e a oportunidade de participar de um trabalho tão grande como aquele.
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