Todos nós, pelo menos uma vez na vida, já andamos em um
carrinho de rolimã. Feito em madeira, com rodinhas que giram através das
bolinhas colocadas em uma espécie de engrenagem, o carrinho normalmente é
dirigido com os pés.
O quarteirão que eu morava desde que nasci era propício
para esse tipo de brinquedo. Com a calçada dotada de leve declive, era só
embalar o carrinho lá na esquina onde ficava a Farmácia Nossa Senhora da Penha
e torcer para que ninguém entrasse na frente.
A rua de casa, mais precisamente o quarteirão entre a Rua
XV de Novembro e a Ladeira São João, era repleto de crianças. E a cada época do
ano a brincadeira era diferente.
Tinha a febre do pião, das pipas, das brincadeiras de rua
e tinha também a épocas do carrinho de rolimã. Aí a coisa fervia e era carrinho
pra cima e pra baixo o dia inteiro.
Por causa das rodas em aço, além do barulho que produzia,
o brinquedo muitas vezes riscava a calçada, principalmente na hora de colocar o
pé no chão e brecar. E era aí que a confusão se formava.
Meu pai, sempre austero, não era muito chegado a esse
tipo de brincadeira e quando ficava irritado saía na porta de casa e reclamava
com os meninos que estavam descendo a calçada com os carrinhos. Isso fazia com
que muitos deles tivessem medo dele e outros, mais rebeldes, davam de ombros e
a brincadeira continuava.
Mas, o que meu pai não sabia era que o chefe da turma, ou
melhor, a chefe da turma era sua filha mais nova. Minha irmã Claudia, que
sempre gostou de fortes emoções, era a líder do grupo dos carrinhos de rolimã.
Claro que se soubesse da proeza dela meu pai iria virar o
bicho, então tudo era feito as escondidas. Lembro de uma vez que, ao descer de
patinete a calçada de casa, ela perdeu o controle do brinquedo e deu na parede,
esfolando o tornozelo.
Com medo da reação do meu pai, que estava para chegar do
trabalho para o almoço, entrou em casa escondida, sem que minha mãe visse, e
quem curou o pé da corredora fui eu. Aliás, era sempre assim: ela aprontava das
suas e eu acobertava e livrava ela do pior.
Talvez seja por isso que nos damos tão bem e somos não
apenas irmãos, mas parceiros de todas as horas. Recordar esse tempo nos remete
a um costume praticamente em desuso nos dias de hoje, tão atrelado à tecnologia
e às telas de celulares, iPhones, tablets e outros brinquedinhos do gênero.
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