terça-feira, 5 de março de 2019

A sede da Banda Lira


Costumo dizer que faço parte da Banda Lira mesmo sem saber tocar qualquer instrumento. Nas inúmeras vezes que apresentei a corporação em eventos sempre fiz questão de lembrar que passei boa parte da vida ouvindo os ensaios que a Lira fazia em sua sede.
No meu tempo de criança não havia a sede da Banda Lira na Rua Comendador João Cintra. No local onde ela foi construída havia uma ferraria, que pertencia a um senhor que era chamado de Bertino.
Lembro que era uma construção antiga e bem judiada pelo tempo. Seu cheiro era uma mistura de odor de cavalo com ferro quente, talvez pela presença constante de animais que eram levados ali para receberem ferraduras novas.
 Não sei ao certo quantos anos eu tinha, acredito que menos de 10, quando o antigo prédio foi derrubado para dar lugar à sede da banda. Depois de um bom tempo tudo ficou pronto e a partir daquele momento, duas vezes por semana, podíamos ouvir os acordes nos ensaios comandados pelo maestro Américo Passarella, que era nosso vizinho.
Quando chegava o tempo da Festa de Maio era dali que a banda saía para a alvorada. Como era bom ouvir aqueles dobrados que me emocionam até hoje a cada vez que os ouço.
Era naquele prédio que fazíamos nossos bailinhos, era na grade que existia antes da reforma que brincávamos, ou nos reuníamos para jogar conversa fora. Aquilo era parte do nosso pequeno mundo, um mundo de criança que fazia da rua o seu próprio mundo.
Aos sábados a sede servia para ensaios de um conjunto e lá estava eu ouvindo aqueles caras tocarem os sucessos da época. Lembro como se fosse hoje do X9, do Cebola Zago, do João Carlos, do Fernando Riberti e de tantos outros que agora me fogem da memória, mas que estavam sempre lá para ensaiar.
Em 83 um temporal colocou o prédio da banda abaixo depois que o muro do terreno acima cedeu. Debaixo dos escombros ficaram para sempre as memórias de um tempo de infância.
O prédio foi reconstruído sem a entrada com a grade e cada vez que passo por lá recordo daquele tempo em que tudo era apenas uma brincadeira de criança. Um tempo que o próprio tempo já levou para o fundo do baú de memórias que guardo em meu coração.

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