Costumo dizer que faço parte da Banda Lira mesmo sem
saber tocar qualquer instrumento. Nas inúmeras vezes que apresentei a
corporação em eventos sempre fiz questão de lembrar que passei boa parte da
vida ouvindo os ensaios que a Lira fazia em sua sede.
No meu tempo de criança não havia a sede da Banda Lira na
Rua Comendador João Cintra. No local onde ela foi construída havia uma
ferraria, que pertencia a um senhor que era chamado de Bertino.
Lembro que era uma construção antiga e bem judiada pelo
tempo. Seu cheiro era uma mistura de odor de cavalo com ferro quente, talvez
pela presença constante de animais que eram levados ali para receberem
ferraduras novas.
Não sei ao certo
quantos anos eu tinha, acredito que menos de 10, quando o antigo prédio foi
derrubado para dar lugar à sede da banda. Depois de um bom tempo tudo ficou
pronto e a partir daquele momento, duas vezes por semana, podíamos ouvir os
acordes nos ensaios comandados pelo maestro Américo Passarella, que era nosso
vizinho.
Quando chegava o tempo da Festa de Maio era dali que a
banda saía para a alvorada. Como era bom ouvir aqueles dobrados que me
emocionam até hoje a cada vez que os ouço.
Era naquele prédio que fazíamos nossos bailinhos, era na
grade que existia antes da reforma que brincávamos, ou nos reuníamos para jogar
conversa fora. Aquilo era parte do nosso pequeno mundo, um mundo de criança que
fazia da rua o seu próprio mundo.
Aos sábados a sede servia para ensaios de um conjunto e
lá estava eu ouvindo aqueles caras tocarem os sucessos da época. Lembro como se
fosse hoje do X9, do Cebola Zago, do João Carlos, do Fernando Riberti e de
tantos outros que agora me fogem da memória, mas que estavam sempre lá para
ensaiar.
Em 83 um temporal colocou o prédio da banda abaixo depois
que o muro do terreno acima cedeu. Debaixo dos escombros ficaram para sempre as
memórias de um tempo de infância.
O prédio foi reconstruído sem a entrada com a grade e
cada vez que passo por lá recordo daquele tempo em que tudo era apenas uma
brincadeira de criança. Um tempo que o próprio tempo já levou para o fundo do
baú de memórias que guardo em meu coração.
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