Sempre afirmo que embora não tenha nascido ou residido
nos Prados, minha ligação com o bairro é muito estreita. Desde os jogos de
futebol até a época em que descia a ladeira São João com meu pai para caçar rã,
tudo era direcionado para aquele lado da cidade.
A começar pelo meu avô, que por anos a fio trabalhou na
Olaria dos Riboldi, que ficava na Avenida Brasil. Era lá que eu ia buscar barro
para brincar ou para, mais tarde, fazer os trabalhos manuais.
E, falando nos Riboldi, que têm parentesco com minha
família, era na várzea que tinha atrás da olaria que eu e meu pai íamos caçar
as saborosas rãs folhagem e, às vezes, as mais encorpadas, chamadas de rãs
pimenta pelo cheiro forte que exalavam. Naquele tempo anda não existia a Avenida
dos Italianos e apenas uma cerca separava a várzea dos fundos da olaria.
Quando chegava a época de caçar rã, após a temporada de
chuva principalmente em setembro e outubro, a várzea ficava repleta de pequenas
lagoas formadas pela chuva pelo transbordo do ribeirão da Penha. Meu pai,
profundo conhecedor daquele lugar, principalmente por ter morado nos Prados
quando criança, sabia onde encontrar as bichinhas que mais tarde virariam um
prato e tanto.
Lembro das inúmeras vezes que desci a ladeira, com um
saco vazio em punho, caminhando ao lado do meu pai e esperando a hora em que
ele iria acender o pavio da lanterna de carbureto. Era só começar a cair a
noite e ele já providenciava a luz que nos levaria até os locais onde teríamos
êxito na caçada.
Algumas vezes meu avô João nos acompanhava na caçada.
Quando chegávamos à várzea ele ia por um lado e meu pai e eu por outro, assim
era possível visitar todas as lagoas e encontrar mais rãs.
Quando meu tio José Detlinger, marido da tia Shirley,
vinha para Itapira, também participava da caçada e na hora de limpar as rãs,
gozador que era, deixava minha vó Leonor em polvorosa. Ela tinha pavor de rã e
se trancava no quarto para se esconder, mas meu tio um dia quase matou a ‘véia’
do coração ao colocar uma rã por debaixo da porta.
Quando saiu do quarto, depois que meu pai recolheu a
bichinha, de vassoura em punho correu atrás do genro para dar o troco. Era um
tempo muito bom e feliz para todos nós.
Lembrar de tudo isso só traz alegria ao coração, pois me
remete a um tempo em que minha família era numerosa, um tempo em que a mesa do
rancho da casa de meus avós estava sempre cheia. Um tempo que se foi, mas que
deixou boas recordações.
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