Quem conheceu minha avó Carmela sabe do que se trata. E
com certeza vai concordar comigo.
Nascida no último ano do século 19 em Nápoles, na Itália,
minha avó Carmela Galli veio para o Brasil com apenas três anos de idade
naquela época em que a imigração italiana era muito grande devido por causa da
promessa de emprego e prosperidade do período pós escravidão.
Embora tenha vindo muito nova para o Brasil, conservava a
língua italiana e era através dela, muitas vezes, que se comunicava com minha
mãe. E foi assim que eu também acabei aprendendo um pouco do idioma da Velha
Bota.
Vó Carmela ficou viúva muito cedo, meu avô Antonio
Papaléo, um espanhol natural de Barcelona, faleceu acometido por um câncer em
54, anos antes de eu vir ao mundo. Mas, com sua força incomum ainda viveu por
mais 12 anos, apesar de sofrer da mesma doença que ele.
Tive o privilégio de conviver com ela por apenas alguns
anos. Quando eu tinha nove anos ela foi embora aos 67 anos.
Mas, nesse curto espaço de tempo pude entender o quanto
valia a força de uma pessoa, seu dom de ajudar as pessoas e mostrar capacidade
para tudo, embora nunca tivesse frequentado os bancos escolares. Sem dúvida,
ela era uma pessoa incomum, muito além do tempo em que permaneceu por aqui.
Sempre pronta a ajudar, fosse quem fosse o necessitado,
lá estava ela abrindo portas e resolvendo problemas. Quantas e quantas pessoas
foram encaminhadas ao Hospital das Clínicas, na Capital paulista, graças ao seu
conhecimento.
Os laços de amizade que mantinha com o médico Eurycledes
de Jesus Zerbini abriam as portas daquele que era o maior hospital do país na
época. Era só ela acompanhar o paciente até lá e a internação era
providenciada.
Por aqui também fazia das suas. Lembro bem de um dia em
que a Marta Ziliotto, que trabalhava na Cal Fortaleza lá nos Prados, havia
perdido a condução que a levaria para o trabalho e minha avó, mais que depressa
parou o primeiro carro que apareceu em direção da Avenida Brasil, sem se dar
conta que era o rabecão da funerária.
Mesmo sem ser eleitora, por não ter cidadania brasileira
e diploma escolar, era adhemarista convicta. Chegava a brigar, no bom sentido,
para defender o político Adhemar de Barros, que chegou ao posto de governador
do Estado.
Posso afirmar que embora tenha tido muito pouco tempo
para conviver com ela, aprendi muito com aquela mulher de passos rápidos e
pensamentos velozes. Aprendi que estender a mão para quem precisa é algo que
devemos sempre praticar.
Já se vão mais de 50 anos de sua passagem para o andar de
cima, mas para aqueles que a conheceram ela sempre vai estar em evidência. Seus
atos jamais serão esquecidos por quem viveu aquele tempo.
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