Não importava quem estivesse pela
frente, grande ou não, ele passava como um bólido, sempre com a bola grudada no
pé direito, driblando laterais, zagueiros, buracos e touceiras.
Naquele tempo não havia as
facilidades de hoje, os gramados de hoje ou os recursos oferecidos aos garotos,
como chuteiras macias, caneleiras, bolas impermeáveis e tudo mais. Era na raça
mesmo, descalço, com bola que quando abria a costura mostrava a câmara de ar
que havia dentro dela.
Sílvio, ou Dé, como era conhecido por
todos nós, parecia ter asas nos pés. Quando partia em direção ao gol adversário
era difícil ser parado.
Vi aquele jovem, antes um garoto,
progredir e ganhar espaço no time da cidade. Com a camisa grená do Itapira,
despontava como grande promessa de seguir carreira e para tanto bastava uma
chance de provar seu talento.
A chance veio, e justamente no
Palmeiras, seu e meu time do coração. E lá se foi o garoto de 18 anos tentar a
sorte em um time grande, recheado de craques.
Não demorou muito e lá estava ele,
envergando a camisa 7 do Alviverde do Parque Antarctica. Suas jogadas pela
direita, suas infiltrações defesa adentro levavam pânico ao adversário e eram
uma arma mortal utilizada para alcançar a vitória.
Acompanhei sua trajetória, pelo
rádio, pela TV ou mesmo in loco, no estádio. Vi ele desmontar a defesa do
Botafogo do Rio em um jogo no Pacaembu, até ser sacado do time pelo técnico
Jorge Vieira, que ouviu o tradicional coro de ‘burro’ entoado pela torcida.
Vi aquele veloz camisa 7 contribuir
com seus passes para o Palmeiras eliminar o Internacional no Morumbi e chegar à
final do Brasileiro de 78. Se não foi campeão, pelo menos provou seu talento
com a bola nos pés.
Com dor no coração ouvi pelo rádio o
lance em que um lateral de nome Manoel, do Botafogo de Ribeirão Preto, usou a
violência para parar aquele ponta veloz e praticamente selar sua passagem pelo
Palmeiras. Assim quis o destino, senhor de todas as ações.
Sílvio seguiu sua carreira, defendeu
outros clubes, mostrou que sabia o que fazer com a bola, mas a vitrine já não
era a mesma. Encerrou sua carreira em outro alviverde, o União São João, de
Araras, cidade que escolheu para seguir a vida, constituir família e ensinar o
que sabia aos garotos da base.
Só quem viveu aquela época sabe do
que estou falando. Só quem viu aquele garoto com asas nos pés sabe que talento
não se compra no mercado da esquina, mas já vem no sangue que corre nas veias.
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