terça-feira, 5 de março de 2019

Camisa branca de gola vermelha


Era uma vez um grupo de garotos que residiam no mesmo quarteirão. Todos eles tinham a mesma paixão: a bola.
Se fosse um conto ou uma fábula, bem que poderia começar assim, mas o fato é que tudo isso é real. Éramos garotos e, como a maioria deles, gostávamos de jogar futebol.
Naquele tempo qualquer terreno baldio servia para nossas peladas, transformadas em nossa imaginação em verdadeiros clássicos. Até mesmo a rua de casa, pavimentada com paralelepípedos disformes, era palco para nossos jogos noturnos.
Mas havia também os jogos contra times de outros bairros e nessas ocasiões era necessário ter nosso uniforme. Jogar sem camisa ou com a roupa do corpo não era de bom tom e havia a necessidade de um uniforme, mesmo que fossem somente as camisas.
E tínhamos também os dias de glória, esperados meses a fio, que era o momento de subir o escadão da Ladeira São João para enfrentar o time do Parque Infantil Narciso Pieroni. A disputa por vaga na fila para enfrentar o time do parquinho era árdua, tinha muitos times que queriam jogar naquele campinho gramado com traves pintadas em verde escuro.
Nossa sorte mudou quando o José Eduardo Rocha, que era nosso vizinho de quarteirão, ganhou um uniforme de presente. Eram sete camisas brancas com golas vermelhas em V e uma camisa de goleiro.
Era o que bastava para vestir nosso time. No campinho do parque jogavam sete na linha e um no gol.
Era difícil ganhar daquele time, mas nossa estatística no confronto era das melhores, com equilíbrio entre vitórias e derrotas. Sempre com nosso garboso uniforme branco de golas vermelhas.
Lembro de uma manhã qualquer de um dia de semana que fomos até o caminho perto do cemitério enfrentar o time do bairro. Chegamos na perua Kombi do Tinho Venturini e já descemos para o campo uniformizados.
Vencemos por 2 a 1 em um jogo difícil. No primeiro tempo joguei na linha e contribui com um gol de cabeça, no segundo tempo fui para o gol para revezar e dar vez para quem estava na posição poder jogar na linha também e acabei defendendo um pênalti.
São momentos inesquecíveis para aquele menino magricela de orelhas grandes que um dia envergou uma camisa branca de golas vermelhas e defendeu o time da sua rua como se estivesse jogando um clássico. Momentos inesquecíveis que jamais deixarão de ser lembrados.

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