terça-feira, 5 de março de 2019

A banda do Toninho


Em 1974, prestes a completar 17 anos, minha vida profissional mudou radicalmente. Ao ser aprovado no concurso para trabalhar no escritório da Usina Nossa Senhora Aparecida, passaria a fazer parte do quadro de funcionários de uma das maiores empresas da cidade naquela época.
De aprendiz no escritório de contabilidade Furiatti, meu primeiro emprego, passei a trabalhar no setor de contabilidade da empresa, mesmo não tendo ainda completado 18 anos. Apesar de ser menor de idade, pelo meu aproveitamento no concurso acabei sendo contratado.
Lembro bem como era o ambiente, cada mesa e cada funcionário. O setor contábil funcionava na parte de cima do prédio, no nível da rua, na parte de baixo ficava o setor de recursos humanos e o balcão onde era efetuado o pagamento aos cortadores de cana em época de safra.
Contíguo ao escritório ficava o local destinado à diretoria. Na primeira mesa, de costas para a porta que dava acesso à sala dos diretores, sentava o doutor Murillo Arruda. Atrás dele a enorme máquina de xerox.
Na mesa seguinte, ocupando uma posição estratégica, de costas para as janelas e de frente para todos os subordinados, sentava o contado Osvaldo Pellegrini. Era um senhor do tipo bonachão, sisudo às vezes, mas que tinha bom coração.
Lembro que quando voltava do almoço no caminho da praça até a usina já ia cochilando no ônibus. E o cochilo continuava nas primeiras horas da tarde, fato que provocava risos em todos.
Nas outras mesas, dispostas em duas fileiras, sentávamos nós, simples mortais. Na primeira fila, perto da janela, ficava o Wilson Foraciepe, depois tinha a minha mesa e na mesa de trás o Adolfo Tagliatti.
A outra fileira, com quatro mesas, abrigava o Irineu Puggina, responsável pelos pagamentos, o Idair Giovelli, o Joãozinho Pereira e na última, de costas para a porta de acesso ao andar de baixo, o Toninho Franco, também conhecido como Toninho Carregador. Cada um com sua função específica para o bom andamento do trabalho.
Nosso período de trabalho incluía o sábado pela manhã. E foi numa manhã de sábado que tudo aconteceu.
Era época de safra e o campo da usina, pela proximidade com o escritório, ficava abarrotado de cortadores de cana aguardando o momento de receber a paga pelo trabalho semanal. Costumávamos falar que mais parecia dia de clássico no Morumbi, tal a quantidade de pessoas.
Talvez para matar o tempo e não dar a tradicional cochilada, o ‘seo’ Osvaldo desceu a escada e foi dar uma espiada no movimento. Imediatamente, como era de costume, o Toninho iniciou sua sessão de humor.
Sentado de costas para a tal porta, ergueu o braço direito, ainda segurando a caneta com que fazia as anotações referentes aos caminhões que transportavam a cana da roça para a moenda, e iniciou a imitação de uma banda.
Ele era tão engraçado que todos nós paramos o que estávamos fazendo e ficamos olhando para trás para ver sua performance. Animado com a plateia, Toninho continuou com a imitação e não percebeu que atrás dele, parado na porta, estava justamente o ‘seo’ Osvaldo.
Todos nós passamos a rir da situação e ele, achando que ríamos dele, continuou com a brincadeira até que o homem tossiu propositadamente atrás dele. Atônito e sem saber o que fazer, Toninho baixou a mão e mesmo imitando a tuba da banda, continuou escrevendo.
A cena foi hilária e até mesmo o contador riu da situação. Essa cena permanece na minha memória até hoje e cada vez que vejo o Toninho lembro de tudo, como se fosse hoje.

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