terça-feira, 5 de março de 2019

A casa 41


Certas passagens marcam nossa existência e permanecem como lembranças intactas, guardadas em um baú de memórias instalado em um canto qualquer do coração. São pessoas, lugares, momentos que são eternizados e, vez ou outra, reaparecem de forma fugaz na nossa mente.
Minha infância foi permeada por momentos e pessoas como a de qualquer outro ser humano. E tantas passagens foram vividas em uma certa casa de número 41 que ficava na Rua João Pereira, a rua abaixo do Bairral e bem perto do Parque Juca Mulato e do antigo estádio Chico Vieira.
Foi ali, na casa dos meus avós paternos, que vivi muitos desses momentos. Era lá que eu passava quase todos os finais de semana, as festas de Natal, Ano Novo, Páscoa, além da festa junina que sempre acontecia no dia de São João, que também marcava o aniversário do meu avô João Butti.
Aos domingos era comum meu pai atravessar o parque, subindo pela Ladeira São João, passar a Avenida dos Biris até alcançar a passagem que existia para a João Pereira, na altura de onde hoje está o PPA Central na Rua Bentico Pereira. Do seu lado a Vera, minha irmã mais velha, e eu.
Nos dias de festa, como Natal, Páscoa e Ano Novo, minha mãe já subia durante a semana para ajudar no preparo das comidas e dos doces. E quando chegava o momento de sentar à mesa a casa estava cheia.
A mesa do rancho era grande, abrigava pelo menos 20 pessoas e nem sempre cabia todo mundo. Muitas vezes outra mesa era colocada para as crianças para que todos se acomodassem.
Foi um tempo feliz, que produziu muitas lembranças, a maioria delas alegre. Um tempo que faz falta nos dias de hoje.
Daquela casa lembro cada detalhe. Do portão de entrada, das flores do jardim antes da pequena área, da sala onde ficava o sofá e a TV e onde minha avó Leonor armava a enorme árvore de Natal, dos dois quartos do lado direito e o do lado esquerdo onde dormia meu tio Ivan, depois tinha a cozinha e lá fora, do lado direito o banheiro e do outro o rancho com o fogão à lenha no fundo.
Mas também tinha o quintal onde ficava a parreira de uva e mais acima os pés de limão galego e figo. Lá no final um galinheiro desativado que servia para meu avô guardar as tralhas dele.
A casa não existe mais, foi demolida e no lugar construída uma nova. Mas, se não existe fisicamente, continua em pé nas minhas lembranças de criança e é lá que ficará até que um dia eu também vá para o andar de cima depois de cumprir minha etapa nessa vida.

Nenhum comentário:

A quarta série ginasial

Faz tempo que isso não ocorre, mas um tempo atrás eu vivia sonhando que estava nas dependências da escola onde cursei o ginasial e também ...