Certas passagens marcam nossa existência e permanecem
como lembranças intactas, guardadas em um baú de memórias instalado em um canto
qualquer do coração. São pessoas, lugares, momentos que são eternizados e, vez
ou outra, reaparecem de forma fugaz na nossa mente.
Minha infância foi permeada por momentos e pessoas como a
de qualquer outro ser humano. E tantas passagens foram vividas em uma certa
casa de número 41 que ficava na Rua João Pereira, a rua abaixo do Bairral e bem
perto do Parque Juca Mulato e do antigo estádio Chico Vieira.
Foi ali, na casa dos meus avós paternos, que vivi muitos
desses momentos. Era lá que eu passava quase todos os finais de semana, as
festas de Natal, Ano Novo, Páscoa, além da festa junina que sempre acontecia no
dia de São João, que também marcava o aniversário do meu avô João Butti.
Aos domingos era comum meu pai atravessar o parque,
subindo pela Ladeira São João, passar a Avenida dos Biris até alcançar a
passagem que existia para a João Pereira, na altura de onde hoje está o PPA
Central na Rua Bentico Pereira. Do seu lado a Vera, minha irmã mais velha, e
eu.
Nos dias de festa, como Natal, Páscoa e Ano Novo, minha
mãe já subia durante a semana para ajudar no preparo das comidas e dos doces. E
quando chegava o momento de sentar à mesa a casa estava cheia.
A mesa do rancho era grande, abrigava pelo menos 20
pessoas e nem sempre cabia todo mundo. Muitas vezes outra mesa era colocada
para as crianças para que todos se acomodassem.
Foi um tempo feliz, que produziu muitas lembranças, a
maioria delas alegre. Um tempo que faz falta nos dias de hoje.
Daquela casa lembro cada detalhe. Do portão de entrada,
das flores do jardim antes da pequena área, da sala onde ficava o sofá e a TV e
onde minha avó Leonor armava a enorme árvore de Natal, dos dois quartos do lado
direito e o do lado esquerdo onde dormia meu tio Ivan, depois tinha a cozinha e
lá fora, do lado direito o banheiro e do outro o rancho com o fogão à lenha no
fundo.
Mas também tinha o quintal onde ficava a parreira de uva
e mais acima os pés de limão galego e figo. Lá no final um galinheiro
desativado que servia para meu avô guardar as tralhas dele.
A casa não existe mais, foi demolida e no lugar
construída uma nova. Mas, se não existe fisicamente, continua em pé nas minhas
lembranças de criança e é lá que ficará até que um dia eu também vá para o
andar de cima depois de cumprir minha etapa nessa vida.
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