segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

A quarta série ginasial


Faz tempo que isso não ocorre, mas um tempo atrás eu vivia sonhando que estava nas dependências da escola onde cursei o ginasial e também o colegial. Sonhava que estava no IEEESO, isso mesmo, no IEEESO e não no ESO de hoje.
Em meus sonhos a escola era sempre do jeito que a frequentei, sem as mudanças feitas para atender os padrões atuais ou para conter o ‘ânimo’ dos alunos de hoje. Naquele tempo, nos anos 70, tudo era mais romântico, todos respeitavam a escola como ela devia ser respeitada, assim como os professores e demais funcionários, fossem diretores ou simples faxineiros.
A cada sonho lá estava o extenso saguão destinado ao recreio com os banheiros, a sala de trabalhos manuais do professor José Silveira na ponta, a sala do professor Barretto de frente para a quadra de cima, o gramado, o portão de acesso ao campo de futebol, à quadra de baixo e à pista de atletismo. Era ali que meninos e meninas se encontravam, pois naquele tempo as classes eram separadas.
De todos os sete anos que frequentei aquele lugar mágico o melhor deles foi quando cursei a quarta série ginasial. Talvez por estar naquela idade de transição, em que achamos que já sabemos tudo sobre o mundo ao nosso redor.
Lembro bem que eram duas salas abrigando alunos da quarta série, ambas no pequeno corredor que dava entrada para a biblioteca. A nossa sala era a da direita de quem entrava no corredor, com as janelas para a rua ao lado da escola.
As aulas eram no período da tarde e as de Educação Física às seis da madrugada. Quando era inverno o frio era de ‘rachar mamona’ como era costume dizer.
Eu sentava na primeira carteira na fileira perto da porta. Atrás de mim vinham Rudyard Trani, Plininho Cremasco, Kilão Galdi, Alexandre Caio e, mais atrás o Sérgio Venturini.
Lembro de muita gente daquela sala, alguns que já até partiram para o andar de cima, como o Gildo Piardi, o Paulo de Tarso Nascimento, o Paulo Marin e o Antonio Carlos Amâncio, que no início do ano tinha uma voz fina, mas que quando voltou da férias assustou todo mundo quando abriu a boca e sua voz tinha um tom grave. Era a chamada mudança da adolescência, quando a voz muda, assim como muitas outras coisas.
Eu era um bom aluno, sempre tirava boas notas, mas a sala tinha outros ‘bambas’ como o José Roberto Pretel Pereira Job, o Luís Paulo Souza Ferreira, o Maurinho Xavier, o Sávio Pegorari, o Juca Serra, o Dindão Serra, o Paulo Eduardo Sartori e o Chico Antonio Azevedo. E tinha os que eram respeitados pelos demais por serem mais velhos, como o Cláudio Nascimento, o Miltinho Piardi, o Ipê Ferreira Alves, o Carlão Nogueira, entre outros.
Guardo boas recordações daquela época e bons ensinamentos também. Tínhamos professores de ponta como Clibas Ribeiro Paiva, Sirtes Valdissera, Marlene Barizon, Ninfa Bosso, entre outros, e só não aprendia quem não queria.
Foi um tempo muito bom da adolescência. De aprendizado, mas de diversão também.
Sempre que posso fecho os olhos e volto no tempo. Me vejo sentado na primeira carteira da primeira fileira e visualizo até mesmo cada um dos demais nos lugares em que se sentavam.
Mas, como tudo na vida, aquele tempo acabou no final do ano. Quando conclui a quarta série meu pai decidiu que eu iria estudar no período noturno e tudo mudou.
O tempo pode passar, mas não apaga as boas lembranças como o apagador, implacável, tira do quadro negro a matéria antes que possamos copiá-la. E as boas amizades que aquele tempo mágico proporcionou também permanecem intactas, sem que o tempo possa diluir.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Uma festa popular chamada Carnaval


Como tudo está mudado. Nem parece que o ano está começando e o Carnaval se aproximando.
Como tudo agora é bem diferente de um tempo, há pelo menos 25 ou 30 anos, quando essa era a época em que a cidade começava a ferver na espera pelo Carnaval. O corre-corre em busca de fantasias para os bailes de salão ou para os desfiles das escolas de samba era intenso, assim como os clubes iniciavam nessa época, passado o Réveillon, os preparativos para as quatro noites de folia.
Lembro bem dos anos dourados do carnaval itapirense. Os dois clubes instalados na praça principal – Clube XV e Centro Comércio e Indústria – dominavam, mas a Sociedade Operária também tinha frequência garantida.
Era comum a formação de blocos carnavalescos para os bailes nos clubes e os bares nos arredores ficavam abarrotados.
Na última noite, já com o sol nascendo na quarta-feira de Cinzas, as orquestras do Centrão e do Clube XV se encontravam na praça. Era a última oportunidade para os foliões se despedirem do Carnaval.
Anos mais tarde o Tênis Clube começou a realizar bailes carnavalescos, atraindo para si os freqüentadores do Clube XV. Posteriormente foi a vez do Clube de Campo Santa Fé dominar, esvaziando o Tênis e também o Centrão.
Hoje tudo isso acabou. Não há mais carnaval de salão no Clube XV ou no Centrão e muito menos no Tênis Clube ou no Santa Fé.
Esse tipo de festa perdeu o apelo, principalmente devido ao gosto musical da atualidade, que não permite mais que as tradicionais marchinhas de Carnaval sejam executadas pelas orquestras nos bailes carnavalescos. Se não for funk, axé ou coisa parecida, ninguém dança.
Só quem viveu tudo isso sabe o quanto foi bom. Só quem deixou um baile de Carnaval para ver o sol nascer no parque, ou para tomar uma sopa de cebola no Chopão sabe o quanto tudo isso significou para várias gerações.
Gerações que podem ser consideradas privilegiadas, pois viveram as melhores décadas, ouviram as melhores músicas, dançaram ao som de grandes orquestras e ouviram programas radiofônicos da melhor qualidade. Só restou a saudade de tudo que já passou.
Tudo isso ficou no passado, embora bem guardado no baú de memórias de quem vivenciou esses bons momentos. Momentos que jamais serão esquecidos.

Uma certa Academia


Em 1972 o Palmeiras formou uma verdadeira academia que faria sucesso e conquistaria títulos estaduais e nacionais. Era o tempo em que qualquer torcedor, fosse palmeirense ou não, sabia de cor e salteado a escalação principal.
Dois anos depois, mais precisamente no dia 07 de dezembro de 1974, um sábado, o Palmeiras veio até Campinas para enfrentar o Guarani. Um jogo que valeu pelo segundo turno do Campeonato Paulista, que terminou com a conquista do título pelo Palmeiras após a vitória por 1 a 0 sobre o Corinthians naquele épico jogo no Morumbi, que determinou a saída de Rivelino do clube de Parque São Jorge.
Como o jogo era em Campinas, combinei com o Bi Sartorato, que naquela época trabalhava no Palácio dos Esportes, de propriedade dos irmãos Hugo e Henrique Stort, e fomos para o jogo, levando conosco o Rogério Monezzi, hoje médico endocrinologista.
O jogo reuniu mais de 22 mil pessoas no Brinco de Ouro, que naquela época ainda não tinha o anel superior. Chegamos cedo ao estádio campineiro e procuramos pelo local onde estava a torcida palmeirense.
Lembro que ficamos atrás do gol a direita das cadeiras cativas, debaixo de um sol daqueles, para ver um 0 a 0 sem muitas emoções. O Palmeiras pouco atacou e criou poucas chances para marcar, o mesmo acontecendo com o time bugrino.
Mas, o que mais contou naquela tarde foi que pela primeira vez eu estava em um estádio de futebol por conta própria, sem a companhia do meu pai ou de algum responsável. A sensação foi de que era já não era mais um menino, tinha crescido e podia andar com as próprias pernas.
Voltei muitas vezes aos campos de futebol, vi muitos jogos do Palmeiras em diversas situações. Mas aquela, por ter sido a primeira foi especial.
Mais tarde, já atuando como repórter de campo ou comentarista esportivo, aprendi que podia torcer pelo meu time apenas por dentro, sem demonstrar minhas emoções no microfone. Vibrava ou sofria no meu íntimo, mas no microfone mantinha a neutralidade e o profissionalismo.

Um solo de guitarra


Minha mãe costumava afirmar que um perfume e uma musica a gente nunca esquece. O tempo pode passar e as lembranças irão permanecer para sempre e cada vez que ouvirmos aquela música ou sentirmos aquele perfume irão aflorar em nossa mente.
E não é que a ‘véia’ tinha razão. Toda vez que ouço uma música ou sinto um perfume vem à tona o momento em que ouvi ou senti pela primeira vez.
Mas, deixando o perfume de lado, acredito que sou um privilegiado, pois nasci e cresci em um tempo recheado de músicas que ficarão para sempre. Um tempo em que o bom e velho rock’n’roll dava o tom.
Costumo afirmar que as músicas de hoje, pobres em todos os sentidos, desde a melodia até a letra, passando pelo sentimento e a voz de quem interpreta, deixam a desejar. Gosto não se discute, ninguém tem culpa de ter nascido em um tempo tão pobre de boas músicas, mas bem que esse povo poderia ouvir o que já se fez lá atrás para ganhar um pouco de inspiração.
Como é bom poder ouvir o solo de guitarra de Walter Becker da banda norte americana Steely Dan em Do it Again, lançada em 1972 e que alcançou a posição de número seis nas paradas americanas no ano seguinte, segundo a revista Billboard. Ou a obra prima da banda sul africana The Square Set, que em 1969 lançou Thats What I Want.
Cito essas duas como poderia citar tantas outras canções inesquecíveis, como I Shot The Sheriff, lançada em 74 pelo britânico Eric Clapton; ou Bad Love, do mesmo Eric Clapton, e o que falar de Walk Alway, da banda americana James Gang, lá do início dos anos 70, que tinha Joe Walsh na guitarra. São canções inesquecíveis e que nunca irão morrer para quem viveu esse tempo mágico.
Hoje, quando vou a um show de rock, sei que quem está no palco só está ali porque tem competência, pois se errar uma nota, quem gosta e conhece rock vai notar na mesma hora. Respeito o gosto de cada um, até mesmo de quem prefere o que se produz hoje e daqui dois ou três meses já desapareceu, mas não abro mão do meu bom gosto e da satisfação de ouvir o bom e velho rock’n’roll.
Esse gosto musical devo a dois grandes amigos da adolescência, pois foi com eles que aprendi a gostar desse tipo de música. E cada vez que ouço uma dessas obras primas imediatamente volto no tempo e lembro de Plininho Cresmasco e Rudyard Trani, dois grandes amigos, dois profundos conhecedores da boa música.

Um padre muito além do seu tempo

Nasci no seio de uma família católica. Meus avós eram parte integrante da Matriz de Santo Antônio, sempre presentes e sempre auxiliando no que fosse necessário.
Minha avó Leonor era a responsável pelos pastéis nas quermesses e meu avô João Butti fazia parte do grupo que prestava serviços à paróquia comandada pelo padre Matheus Ruiz Domingues. Essa devoção não era em vão, além de serem religiosos, tinham um filho no seminário, se preparando para assumir seu lugar como padre.
Desde pequeno acompanhei todo esse processo. Meu tio José Rubens estava no seminário e vinha a cada folga para casa. Estudou em São Paulo, Campinas e algum tempo passou também em Aparecida, mas sempre que podia vinha para Itapira.
Era um tempo feliz, a família se reunia a cada data especial como Natal, Ano Novo e Páscoa. A mesa comprida no rancho da casa de meus avós sempre ficava cheia e muitas vezes seus colegas seminaristas também marcavam presença, entre eles Jacintho Domeni Martins e José Veríssimo Sibinelli.
Quando estava em Itapira meu tio cumpria seus deveres na igreja, mas também tinha sua vida normal como jovem que era. E, como bom corintiano, logo pela manhã descia a rua Hortêncio Pereira da Silva até o Bar Santo Antônio, de propriedade do Carlos Zacchi, para ler as notícias na Gazeta Esportiva.
Certa vez, em uma dessas manhãs, segundo relado do Guilherme Martelli, meu tio estava em uma das mesas lendo o jornal quando apareceu um senhor, de uma outra religião, como uma bíblia na mão. Ao se dirigir ao balcão, abriu a bíblia e começou a ‘pregar’.
O Ico Martelli, pai do Gui, que trabalhava no bar e estava no balcão, interrompeu o discurso e mostrou meu tio, sentado e absorto na leitura. “Fale com aquele moço ali”, disse. E, imediatamente, o homem com a bíblia se dirigiu à mesa onde meu tio estava e começou a falação.
Calmamente, meu tio pediu a ele que abrisse a bíblia em uma determinada página e, ao ser atendido, começou a falar para o homem tudo que ali estava escrito. Sem ação, restou ao homem enfiar a viola no saco ou a bíblia embaixo do braço e dar no pé.
Meu tio José Rubens tornou-se diácono no dia 14 de junho de 1970. Guardo essa data porque foi no dia em que a seleção brasileira derrotou o Peru por 4 a 2 na Copa de 70 e garantiu vaga nas semifinais para enfrentar o Uruguai.
Depois disso ainda passou um período no seminário até tornar-se padre em maio de 72. Indicado para assumir a paróquia de Santa Cândida, em Araras, foi para lá e lá faleceu em novembro do mesmo ano, aos 29 anos.
Padre José Rubens Butti, ou simplesmente meu tio Zé Rubens, foi um padre muito além do seu tempo. Com idéias inovadoras, sempre buscou dar às missas e atividades religiosas um conceito mais leve e moderno.
Com seu jeito amigo, conquistou a confiança de todos os que frequentavam suas celebrações, mesmo os mais radicais. Fez amigos por onde passou e mesmo tanto tempo depois de subir para o andar superior ainda é lembrado por seu carisma.


Um homem além do seu tempo


Em um tempo de parcos recursos técnicos e nenhum tecnológico, fazer jornal e rádio era mais que uma profissão. Era, antes de tudo, uma arte e, além disso, tinha que estar no sangue da pessoa.
Diversas pessoas deram sua contribuição para que periódicos sobrevivessem na segunda metade do século passado. Pessoas que muitas vezes não apareciam na mídia, mas que tinham uma importância igual ou maior do que aqueles que estavam sempre em evidência na sociedade.
Em meus tempos de infância, quando a veia jornalística ainda não havia aflorado, eu gostava de ler os jornais da época com Cidade de Itapira e Folha de Itapira. Lia avidamente as notícias sem saber que por trás daquelas páginas muitas vezes carregadas de tinta da impressora havia um sem número de pessoas que davam vida aos jornais.
Pessoas como Benedito Leite, Luiz Ziliotto, Arlindo Bellini, José Peres, José Francisco Lanzoni, João Torrecillas Filho e Amaury Martins, entre tantos que me fogem à memória, mas que também foram de grande importância no contexto jornalístico local.
Lembro pouco dele, mas sempre soube que nesse meio chamado de comunicação, uma figura se sobressaiu pela destreza com que manejava o componidor ou componedor como se falava naqueles tempos, tipos, clichês e outros apetrechos para dar vida às páginas do extinto Folha de Itapira. O jornal, fundado em 08 de maio de 1952, teve nele, além de um eclético funcionário, um diretor quando o mesmo passou das mãos de Luiz Ziliotto para o mogimiriano Arthur Azevedo, que era o proprietário do A Comarca.
Quem conheceu Amaury Martins sabe o quanto ele foi importante para a comunidade itapirense. Além de atuar na gráfica que produzia o Folha de Itapira, enveredou também pelas ondas da Rádio Clube, atuando como repórter esportivo ao lado de grandes nomes da época de ouro do rádio itapirense. De seu amor pela tipografia e tudo que girava em torno dela, ao lado do companheiro de trabalho no jornal, José Peres, fundou a Gráfica Itapirense, que por muitos anos funcionou na José Bonifácio e posteriormente na Francisco Glicério.
Foi assim que Amaury Martins fez sua vida e formou sua família ao lado da esposa Maria do Carmo Lauri, com quem teve as filhas Valéria, Patrícia, Cláudia e Cintia. Foi de sua magia com a arte de escrever, compor e dar vida às palavras que saiu o sustento da família.
No futebol, outra de suas paixões, Amaury Martins passou por clubes amadores da cidade, envergando as camisas de vários times, entre eles a Sociedade Esportiva Itapirense. Era um tempo de glórias e craques como Peretta, Lero, Cristovinho, Carlucha e tantos outros.
Amaury foi embora desse mundo ainda novo, aos 57 anos, em 03 de setembro de 93, mas deixou um legado de bons serviços prestados à cidade e sua gente. Pessoas como Amaury Martins partem desse mundo, mas deixam suas marcas indeléveis no coração daqueles que as conheceram e nunca se esqueceram.

Um grande homem, um grande prefeito

Quando se é criança as atitudes dos adultos ficam gravadas para sempre em nossa memória. Se são atitudes de pessoas dignas, essas marcas permanecem por todo o sempre, transformando o responsável em um ícone a ser lembrado pelo resto da vida.
Conheci Hélio Pegorari nos meus tenros tempos de criança. Por estudar com o Sávio, o segundo de seus quatro filhos, estava sempre em contato com aquela família que morava nas imediações do Parque Juca Mulato, primeiro na José Pereira e depois na Rui Barbosa, curiosamente ao lado da residência de seu antecessor na Prefeitura, Benedito Alves de Lima.
Vez ou outra era na casa dos Pegorari que a gente estudava ou fazia a lição de casa passada pelas professoras do curso primário. E, sempre que via aquele senhor de semblante calmo, que transmitia segurança, me sentia feliz por conhecer uma pessoa como ele.
Empreendedor, tocava ao lado dos irmãos a fábrica de implementos agrícolas fundada pelo pai, Albano, no início do século 20. E seu empreendedorismo acabou fazendo com que fosse escolhido, em 68, para ser candidato a prefeito da cidade.
E foi, justamente nas eleições de 68 que vivi intensamente minha primeira eleição, apesar de ser um menino de 11 anos. A disputa pela cadeira de prefeito tinha nomes respeitáveis como Hélio Pegorari, César Bianchi e Alcides de Oliveira, pela Arena, e Pedro Boretti, pelo MDB, que era a oposição.
Claro que eu não era eleitor ainda, afinal tinha apenas 11 anos. Mas pela proximidade da casa de meus avós paternos com a residência dos Bianchi, na João Pereira, meu candidato na disputa passou a ser o César Bianchi.
Acompanhei a apuração dos votos através da Rádio Clube e marcando atentamente cada urna em uma folha de papel de embrulho. Tudo muito bem feito, com a supervisão de minha mãe, que também gostava de acompanhar a apuração.
César Bianchi não ganhou. Ficou em terceiro, atrás do Alcides de Oliveira, que foi o segundo.
O eleito foi Hélio Pegorari, que foi um grande prefeito, governando a cidade de 69 a 72 e deixando um legado de importantes obras, a maioria debaixo da terra, por serem de infraestrutura, vitais para toda a população.
Hélio Pegorari foi embora desse mundo em julho de 2009, mas deixou por aqui um legado de boas ações. Foi casado com Mary Silva Pegorari, a professora Mey, outra pessoa de alma bondosa, e do casamento vieram os filhos Hélio, Domingos Sávio, Odair e Guilherme.
Hélio Pegorari não faz parte apenas da galeria de prefeitos que Itapira já teve, mas daquela que é formada por homens que deram sua contribuição para o progresso da cidade e o bem estar de seu povo. Ele ocupa lugar de destaque na gama de pessoas que deixam marcas de integridade e competência.

Um certo dia 5 de julho


Parece que foi ontem, mas já se passaram 36 anos. Conhecido como a Tragédia do Sarriá, o dia 5 de julho de 1982 é sempre lembrado pelos brasileiros, principalmente em ano de Copa.
Naquela época o apelo popular de uma Copa do Mundo era muito maior, mais contagiante. Talvez porque não houvesse tanta exposição dos jogadores na mídia e redes sociais.
Era um tempo em que os jogadores usavam chuteiras pretas, não tinham cabelos que mudavam o penteado a cada jogo e não exibiam tatuagens pelo corpo inteiro. Resumindo, era o futebol em sua verdadeira essência, sem frescura.
Naquela época eu trabalhava na agência de Águas de Lindóia da Caixa Federal e lembro bem daquele dia 5 de julho. Um dia que nunca mais esquecerei por tudo que aconteceu antes, durante e depois do jogo.
Como não daria tempo de voltar para casa a tempo de ver o jogo entre Brasil e Itália, que valeria uma vaga na semifinal do Mundial disputado na Espanha, um aparelho de TV foi instalado na agência para que pudéssemos assistir. Estava tudo combinado, era só comemorar mais uma vitória brasileira.
Mas o dia já começou conspirando contra e nada deu certo naquele 5 de julho. Como o dia 2 é feriado na cidade e caiu na sexta-feira, o movimento na agência triplicou na segunda-feira.
Eu estava trabalhando como caixa e só consegui sentar a frente da TV já no meio do segundo tempo, quando a Itália vencia por 2 a 1, pouco antes de Falcão empatar em um chute de fora da área.
Mas, não deu tempo nem de comemorar e seis minutos depois Paolo Rossi fez o seu terceiro gol e colocou a Itália outra vez na frente. Um empate bastaria à seleção brasileira, mas o goleiro Dino Zoff acabou de vez com o sonho ao defender uma cabeçada em cima da linha.
Mesmo tendo um time considerado mágico, com craques como Falcão, Sócrates, Zico, Cerezzo, Éder, Leandro, Júnior e Oscar, o time brasileiro amargou uma derrota por 3 a 2 e não foi adiante. A Itália seguiu em frente e acabou ficando com o título naquele ano.
Mas, apesar da tristeza pela derrota, a vida tinha que seguir em frente. Quando já estávamos preparando o fechamento da agência aconteceu um fato que serviu para nos dar alguns momentos de descontração.
O prédio que abrigava a agência estava em construção e os andares superiores em fase de acabamento. Depois do jogo os funcionários da obra já estavam no batente novamente, apesar da derrota, e deviam estar tão ou mais chateados que nós, pois tinham que voltar ao trabalho.
Um grupo de jovens que passava pelo local, talvez para provocar as pessoas, começou a gritar Itália e aí veio o troco lá do céu, ou melhor, de cima do prédio. Quando passavam pela calçada, um dos trabalhadores da obra, enfurecido com a provocação, não pensou duas vezes e despejou a lata de reboque na cabeça dos provocadores.
Aquilo serviu para quebrar por uns instantes a tristeza pela derrota, tal a forma inesperada como tudo ocorreu. Sempre que me lembrar daquela amarga derrota, com certeza, aquela cena hilária irá voltar à memória.


Um apaixonado pelo futebol


Quando nasceu na vizinha cidade mineira de Jacutinga, em 8 de dezembro de 1951, o menino Aparecido Roberto Vieira nem imaginava que cresceria, formaria família e fincaria suas raízes em outra localidade, que embora próxima de sua cidade natal, pertencesse ao estado de São Paulo. Quando nasceu, o menino Aparecido Roberto nem imaginava que, ao se mudar para Itapira, passaria a ser conhecido como Mineiro por causa de suas raízes.
Naquele dia de dezembro, consagrado a Nossa Senhora da Imaculada Conceição, começaria a vida desse menino que sempre teve uma grande paixão na vida: a bola de futebol. Desde pequeno já dava seus chutes e sonhava em, um dia, ser jogador de futebol.
Torcedor do São Paulo, aquele menino sabia, de cor e salteado, a escalação das grandes formações do seu querido Tricolor. E, porque não, dos outros times também.
Sua carreira no futebol começou como a de muitos garotos daquela época. Foi no Clube Atlético Itapirense, comandado pelo Benedito Valério, o Jaú, que iniciou seus passos no esporte.
De lá para o time profissional do XI de Agosto foi um pulo, assim como para as fileiras do Itapira Atlético Clube, do Clube Atlético Guaçuano, do Barretos e dos mogimirianos Peixe e Clube Atlético Mogiano, além de integrar o elenco campeão paulista da Terceira Divisão pela Sociedade Esportiva Itapirense em 1969, aos 17 anos.
No futebol amador da cidade Mineiro desfilou sua categoria, seus lançamentos e chutes certeiros e potentes defendendo Calunga, Olaria, Duque de Caxias, Cubatão, Santa Fé e Flamenguinho, entre outros. Mas foi no Itapira Atlético Clube que deixou sua marca para a história com um gol antológico, que classificaria o time grená para a fase seguinte do Campeonato Paulista.
Corria o ano de 1979, Mineiro era o ponta-esquerda do time e, antes do jogo, prometera ao pequeno filho Fabrício, seu primogênito, que faria um gol para ele. Jogo duro contra o Jabaquara no Chico Vieira e Mineiro foi à linha de fundo para o cruzamento, mas acabou decidindo pelo chute, mesmo sem ângulo. A bola, caprichosamente, bateu na linha da pequena área, ganhou efeito e enganou o goleiro adversário. Estava paga a promessa ao filho e garantida a classificação itapirense.
Esse tempo já vai longe. Hoje, Mineiro já não dá seus chutes na velha paixão por esse mundo. No dia 20 maio de 2017 foi escalado para jogar no time lá de cima e deve estar fazendo seus gols e lançamentos no andar superior.
Levou com ele sua simplicidade, o amor pelo futebol e seu imenso conhecimento sobre esse esporte que move grande parte dos brasileiros. Quem conversava com ele sabia que estava diante de um apaixonado por futebol.

Última curva


Há algum tempo já estou com o nariz virado para a reta final. Como se diz em uma corrida, já contornei a última curva e apontei na reta para concluir meu percurso.
Se olhar para trás sei que vou ver que já caminhei muito mais do que tenho para caminhar nessa estrada chamada vida. Daqui para frente é levar o carro até o final e aproveitar tudo que ainda tenho para viver.
Embora pareça um sentimento de conformismo, na realidade é apenas uma constatação de que a vida, a cada dia que passa galopa cada vez mais rápido. Se não tivermos fôlego para acompanhar acabamos ficando para trás.
Mas, o que o futuro nos oferece? Sempre ouvi dizer que quando se dobra a última curva já não há muito que se esperar, a não ser o momento de embarcar rumo a última viagem.
Ledo engano! A vida nos reserva, a cada etapa, um turbilhão de emoções e momentos intensos, mas com a dose que nosso esqueleto já cansado pode suportar.
Basta não ficarmos sentados esperando a morte chegar. Temos mais é que apertar o pedal da direita, olhar atentamente para a paisagem da janela lateral e ver que há muito ainda para se viver, nem que seja por breves instantes.
Da vida nada se leva. Quem um dia disse isso não sabe o que é viver ou aproveitar o que a vida tem de bom.
Daqui tudo se leva, menos os bens materiais. Daqui levamos as emoções, os bons momentos, os sentimentos de amizade e tudo o que podemos realizar ao lado de pessoas queridas e em prol da felicidade daqueles que necessitam.
O nariz pode estar apontado para a linha de chegada, o corpo cansado pode estar a poucos metros de alcançar a bandeirada, mas no âmago de nossa engrenagem tudo deve estar sempre em perfeito estado. O combustível da vida pode estar quase na reserva, mas o óleo que engraxa nossos sentimentos deve ser sempre renovado para que tudo funcione de forma plena.
Só assim todos os momentos serão vividos com intensidade e nossa corrida será coroada de pleno êxito. Aí sim o carro poderá ir para o box e ser recolhido para o descanso eterno.

Três gerações, três emoções

No futebol, principalmente, costumamos dizer que certas formações nunca são esquecidas. São aqueles times que marcam época e seja qual for o tempo são sempre lembradas.
Exemplos disso são a seleção de 70 com Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gerson e Rivelino; Jairzinho, Tostão e Pelé. Ou o Palmeiras do início da década de 70 com Leão; Eurico, Luis Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha, César e Nei.
E o que dizer da linha famosa do Santos com Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe; ou a seleção de 58, aquela da final contra a Suécia, com Gilmar; Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. Grandes times, grandes formações, muitas lembranças.
Eu posso afirmar que vivi muitas emoções com formações que nunca mais saíram da memória. Times que ficaram para sempre na lembrança por tudo que representaram.
São três épocas diferentes, três gerações, muitas emoções. E as formações nunca mais serão esquecidas, pelo menos por mim, que vivi tudo isso.
Em 70, quando eu tinha 13 anos, a seleção do ginásio fez história ao chegar às finais do Estado. O técnico era o Clóvis Avancini, o Ná, e o time principal tinha Coradi; Rudyard, Dito Mário, Tato e Sávio; Luís Paulo, Ike e Tonini; Tonelada, Plininho e Emilinho.
Passados 15 anos e um novo time fez história novamente, deixando na memória dos torcedores a escalação que todos sabiam de cor e salteado. Em 85 o Itapira Atlético Clube cravou uma das melhores campanhas do Campeonato Paulista da Terceira Divisão comandado pelo técnico Pedro Paulo da Silva, o Nã.
Mesclando atletas da cidade com alguns importados de cidades vizinhas, tinha um time de respeito, formado por Camilo; Chicão, Toninho Bellini, Gersinho e Ditinho; Cláudio José, Pedro Paulo e Fernando; Ronaldo, Lilico e Chiquinho. Outros nomes também fizeram parte da campanha e também deixaram seus nomes gravados na história como Fernandinho, Dinhão, Tatão, Flávio Boretti, Fran e Alemão.
No ano seguinte, um novo time fez sua parte e cravou sua formação na memória do torcedor. Era o time júnior do Itapira Atlético Clube, que ficou entre os melhores do estado.
O técnico era o José Antonio Sartorato, o Bi, escudado pelo auxiliar Devaldo Cescon, o Pasté. A formação principal é guardada até hoje na memória de quem acompanhou sua participação no campeonato e tinha Flávio; Arouca, Márcio, João Olo e Zé Antonio; Pedrinho Zázera, Diógenes e Claudinho; Tiãozinho, Márcio Belli e Chocolate.
São times distintos, épocas distintas, mas cada um a seu tempo deixou sua formação intacta na memória do torcedor. Eu vivi o time de 70 porque jogava no time de baixo; o de 85 cobri todos os jogos como repórter, o mesmo acontecendo com o Júnior de 86.
Memórias assim valem a pena guardar. Um dia todos irão se lembrar e a recordação daqueles tempos será inevitável, assim como momentos únicos vividos por todos que participaram.

A quarta série ginasial

Faz tempo que isso não ocorre, mas um tempo atrás eu vivia sonhando que estava nas dependências da escola onde cursei o ginasial e também ...